quarta-feira, 31 de março de 2010

antropofagia


desencantada
sirvo-me em pedaços
à mesa dos desesperados


Márcia Maia


terça-feira, 30 de março de 2010

A lua por epígrafe


Entardecia. A lua — a mesma lua — de novo se mostrava ao céu daquela rua. A mesma rua. E eu pensava na história. Nas histórias. Na que ali vivera. Na que ali vivia agora. E não percebia que era a vida uma mesma e única história. Que ali se repetia. Noutro tempo. Travestida de outra história. Tendo a lua por epígrafe. E o mesmo travo agridoce reservado ao brinde final.



Márcia Maia

segunda-feira, 29 de março de 2010

heresia


márcia maia©















não azul — imensa e branca
a lua da páscoa

a mais atéia das luas

invariavelmente
me comove

(decifra-me)

e sempre me deixa
mais só



Márcia Maia


sexta-feira, 26 de março de 2010

outono


márcia maia©




















porque a chuva escorre
derretendo a paisagem
na janela
invento outra
navegando cores
coagulando a imagem
no espaço suspenso
entre a gota e
a vidraça
nada de insólito
crio
nada de exótico
acentuo apenas
os contornos da
minha mente errante
de outras eras
como a neve
rodopiando nos néons
da broadway
tão real quanto
meu rosto
          (antigo)

s           m
   l            e
     o            l
       w           t
          l            i
            y            n
                            g
do outro lado
da janela



Márcia Maia